2 de setembro de 2011

IMPÉRIO II - parte 1





IMPÉRIO 2 - O MASSACRE NO PAÍS CELESTE





Rio de Janeiro, 17 de março. 23:00h.

Eu realmente não sei por onde começar, até porque eu nunca escrevi um diário antes, mesmo quando eu era adolescente. Mas agora sou obrigada a escrever sobre isso, pois o que vi, o que ouvi, o que senti e o que vivi não se poderá jamais contar em palavras. Embora seja uma pessoa cristã, o que me sobrou agora é o medo. Vi o livramento de DEUS, mas o medo voltou.
Escrevo esse diário pois se me acontecer o que está acontecendo aos meus amigos espero que esse diário ajude a alguém encontrar respostas que eu mesmo ainda não descobri, ainda que tenha vivido na pele toda a situação. Não é necessário relatar aqui o que me aconteceu pois todos sabem pelos jornais o que nos aconteceu nesse último carnaval. Embora saiba que os próprios noticiários mentiram e muito sobre todos nós.
A questão principal é que se não pode confiar em ninguém mais. Em tudo vi a traição. Vi a mentira e estou com medo de confiar em minha própria família. As coisas que vou relatar nesse caderno serão totalmente verdadeiras, mas trocarei os nomes das pessoas e os nomes dos lugares. Mas saiba, se você não me encontrar mais ou se você, seja quem for, não me conhecer, fiz parte dos 28 do fatídico dia 24 de fevereiro deste ano quando um grupo de 28 pessoas desapareceram e foram dadas como mortas. Sofremos. Vi amigos morrerem torturados, mas na mídia tudo se passou como um simples campo de drogas como acontece com os cartéis e as milícias da Colômbia. Algo tão difícil de acreditar, mas que a sociedade engoliu tão facilmente.
 Desde esse incidente tenho me sentido vigiada. No mercado, há cinco dias atrás, depois do culto fúnebre que fizemos em homenagem aos amigos que não voltaram daquele INFERNO, quando comprava ovos para a janta, havia um homem loiro e alto de camisa regata me observando. Sei que os homens fazem isso, mas em cada gôndola que passava vendo os preços das coisas ele me acompanhava. Senti medo.
Senti como se milhares de demônios me observassem. Pensei em avisar o segurança da loja. Porém, prometemos um ao outro de não contar o que ocorreu a ninguém. Ficamos com medo de envolver mais alguém, nossa família, amigos, etc. Também não sabemos se alguém de nossa família está envolvido. Depois que descobrimos que a esposa de um dos nossos irmãos estava envolvida, começamos a desconfiar de todos. Passamos a nos reunir em segredo como se estivéssemos num país baixo perseguição religiosa.
Compartilhamos algumas coisas e percebemos que o mesmo medo que sinto agora está no meio de todos nós. Como se já não bastasse isso, estava junto com uma amiga na qual vou chamar de ANA, no elevador de um prédio no centro da cidade quando a energia foi cortada. Bem, a energia acabou, mas sinceramente, depois descobri que a energia foi cortada pelo que aconteceu depois.
Quando a luz acabou e ficamos presas entre o décimo sexto e décimo sétimo andares, senti algo apertar meu estômago. Era o medo? Sensação estranha? Intuição? Não sei! Apenas decidi sair de um jeito ou de outro. No meu desespero, ANA tentava me acalmar então disse pra ela que era momento de sairmos dali. Ela achou que era coisa da minha cabeça, mas aprendi a ouvir minha intuição. Então, com as forças que tinha, abri a porta que na verdade estava já meio aberta com ajuda de ANA. Então saí tentei puxá-la, mas não consegui. Ela caiu. Eu estava de frente a um corredor enorme, e escuro.
Então ouvi passos na minha direção. Os passos se apertaram e engoli a seco. Não conseguia pensar. “O que está acontecendo?” Perguntou minha amiga. Mas eu não podia falar. Pensei então em fugir e esquecer a promessa e pedir ajuda a alguém. Falei pra ANA ficar quieta que buscaria ajuda não me importando mais em guardar segredo.
Então procurei as escadas onde estava mais claro e percebi que os passos me seguiram. Comecei a descer as escadas o mais rápido que podia. As escadas eram em forma de caracol. Comecei a gritar socorro, mas derrepente parecia que não existia mais ninguém naquele prédio. Ninguém me Ouvia. “ANA” pensava. “DEUS A PROTEJA” orava. Não sabia o que pensar. O barulho de alguém atrás de mim me dava medo. Então saí na rua movimentada da cidade. Olhei pra trás. Ninguém me seguia. Ao olhar para as janelas do prédio, vi as luzes se ascenderem. A energia havia voltado. Recuperei meu fôlego e tentei ter coragem para voltar e me encontrar com ANA. Voltei. Desde esse dia, três dias se passaram. Não vi ANA desde então. Ela desapareceu’’.



CAPITULO I

O ENCONTRO


Uruguai, país vizinho de Argentina e Brasil. O País do mate, do doce de leite, das murgas, e de Gardel. País com seus quase 4 milhões de habitantes tem a metade concentrada em Montevidéu. Quando se fala de futebol, não há um só uruguaio que não fale e “se lembre” do glorioso dia quando, no Maracanã, Uruguai ganhou a Copa do Mundo do Brasil por 2x0 em 1950.
O uruguaio está sempre nas ruas falando sobre as últimas notícias. Na cultura uruguaia é assim, eles falam sobre tudo, e o que você pergunta eles tem sempre uma opinião para colocar... À partir daquele dia eles teriam muito mais para falar, mas não poderia ser dito livremente nas ruas. Eles teriam muito à falar muito mais para temer! 

24 de Fevereiro. 23:08h.

O presidente do Uruguai estava sentado em frente a TV vendo os noticiários do canal 7 como sempre fazia. Em sua casa o silêncio era notório. Os peixes no aquário faziam uma dança com aquela luz verde fluorescente. O barulho das bolhas na água disputava com o som baixinho da TV. Mil coisas passavam na cabeça do presidente, inclusive decisões importantes que ele teria que tomar no palácio legislativo quando se reuniria com os deputados na próxima semana. Reuniões importantes. Família. Tudo vinha na sua cabeça. Estava cansado. No noticiário falava de tantas coisas que haviam acontecido, não somente no Uruguai, como ao redor do mundo. O medo do islamismo. Atentados em diversos lugares. A crise de saúde na Ásia. Um acidente com um carro em Madri, Espanha, que havia matado cinco pastores. Complicações na bolsa de valores e o peso uruguaio cada vez mais desvalorizado em relação ao dólar... Intervalo.
Perdido em seus pensamentos seu olhar se desviava para a parede azul recém mudada, os quadros egípcios que havia comprado em sua última visita ao Cairo uma linda espada shaolin que ficava ao lado de uma cabeça de alce. Fotos da sua candidatura. Cochilou.
Em poucos minutos em rápidas lembranças, via em sonhos seu último encontro com um homem que lhe fez propostas que mudariam pra sempre o destino do país.  Sua decisão: “Não!”. A ameaça: “Você vai pagar caro por isso!”. Aquela frase ecoava e desaparecia numa névoa. Acordou. O noticiário voltava o assunto do acidente em Madri. Com aquele “entre sono”, não havia percebido que na sua parede algo havia mudado. Algo não estava lá. Recostado ao sofá marrom, tentava prender sua atenção à TV.
Sentiu alguém se aproximar atrás dele e pelos passos sabia quem era. Levantou apenas o olhar. Ele sorriu. Mas quem o olhava não esboçou nenhuma reação. Apenas levantou as mãos para cima juntas e nelas a espada shaolin. O sorriso do presidente se tornou apenas a última lembrança de quem o olhava.  A espada atravessou parte do rosto entre os olhos saindo um pouco pelo pescoço e entrou novamente no seu corpo em seu peito. A pessoa que o fez, saiu sem esboçar nenhum sentimento. O país perdia seu presidente. A TV ainda falava do acidente que havia ocorrido em Madri...

A b W

10 de março, 08:22h.

A viajem até o Uruguai de ônibus não era algo que qualquer um gostava, mas ele estava disposto a passar o que fosse e descobrir o que aconteceria. Agora não como missionário, mas fingindo ser um. De todo o ciclo de amizade e conhecidos que tinha antes do seqüestro dos jovens no carnaval, somente uma pessoa sabia quem ele era e acima disso, sabia que ele estava vivo.
Ricardo sabia que era um homem no qual precisava de todo o modo, mais do que nunca, estar mais firme em sua fé. Somente ela o faria continuar. Somente ela o faria resistir. O ferimento a bala do tiro que levara por salvar Carlos, seu irmão, ainda doía. Mas a separação do irmão doía mais.
Ele pensava em todas as suas perdas. As traições que sofreu. Ele não conseguia nem mesmo apreciar a viagem. Pegou sua identidade e riu meio que entre os dentes: “Javier Lavalleja Antiches”. Seu nome. Seu novo nome. Sua identidade falsa.
Seus documentos todos feitos em Rivera, um departamento de Uruguai que faz divisa com Brasil. Ali há uma mistura muito grande do espanhol com o português, então não seria problema pra ninguém acreditar que ele seria um uruguaio caso ele falasse um pouco de “portunhol.” Além disso, seus três anos de espanhol no curso lhe ajudaria um pouco também. Era só agregar à isso o sotaque “uruguacho”.
Ele pensava nas diversas coisas que fez... Nunca havia imaginado que seria levado a fazer tantas coisas como o fez naqueles dias tão terríveis. Lembrava de cada cena. Como quando lutou com um homem dentro de um rio. Das pessoas que teve que ferir inclusive sua própria esposa... Se sentia culpado pela morte de um deles, ainda que não houvesse matado com sua próprias mãos. Tantas culpas... Mas sabia que havia tomado uma decisão: a de continuar. Seguir em frente.
Entretanto tinha um medo: não das coisas que poderiam acontecer. Tinha medo se chegaria o tempo de decidir entre matar ou morrer. ‘Deus nunca deixe isso acontecer’ Orava. O medo sobre isso era claro. Era palpável. O que pensar? Não tinha muito pensar. A única coisa que teria que pensar agora era o encontrar seus seis amigos que lá estavam servindo como missionários e como disse Safira, ir descobrir o que o Império planejava pra ele no Uruguai.
Ele sabia que chegaria a rodoviária Tres Cruces quando chegasse ao Uruguai, então pegaria um táxi até o endereço que lhe haviam dado. O ônibus parou pra que os passageiros tomassem e comessem algo. Ainda falta quase catorze horas pra chegar ao destino final. Os dezesseis passageiros desceram do ônibus. Enquanto ele sentou com seu chocolate quente e seus quatro pães de queijo, olhava o noticiário da Rede Globo.
Entre muitas notícias do Bom Dia Brasil, Pois ainda estava no Brasil, uma se destacava: A tomada do Exército nas ruas do Uruguai e a posse do novo presidente, Boulevart José. Seu discurso não interessava. O que era interessante era que finalmente haviam descoberto quem havia matado o outro presidente a exatos quinze dias atrás: seu próprio filho de dezoito anos. Foi um choque para todo o país.
Segundo o noticiário, haviam encontrado provas contundentes que seu filho o havia matado, embora, segundo ele, negasse com muita ênfase. Com a morte do Presidente e a prisão do único filho, a esposa do presidente morto havia dado um tiro na cabeça. Parecia que uma onda de maldições estava sobre o Uruguai. O povo estava triste. Cada um que dava entrevista não deixava de expressar o quanto estavam estarrecidos com os acontecimentos. Mas é claro, qual povo ou nação não estaria? Ao ouvir as notícias seus pensamentos voavam. Pensou em ligar pra alguém. Foi a um telefone público e discou o número de um celular, à cobrar. Ainda que fosse da pessoa mais próxima a ele, era novo o celular e precisa olhar o papel a anotação. No terceiro toque a pessoa ao outro lado atendeu.
- Alô?
- Carlos? – Falou Ricardo com a ótima sensação de estar falando com seu irmão...

Continua...

2 comentários:

  1. Amigo, seu talento é fantástico, mesmo! Saudades de você, mas tenho a plena convicção que nos encontraremos no exercício do ministério que Deus tem nos confiado! Aguardo os próximos capítulos.

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